Não são poucos os bordões que reverberam grandes injustiças contra síndicos, sejam eles condôminos ou profissionais eleitos para encarar o hercúleo desafio de representar e fazer a gestão de um condomínio com empenho, estudo, dedicação e pouquíssimo apoio.
No entanto, de tempos em tempos, vêm a público casos de corrupção no condomínio, de maus síndicos que "limparam" o caixa e sumiram do mapa ou que foram pegos em práticas corruptas, deixando o condomínio quebrado, em desequilíbrio financeiro e desvalorizado.
Nesta matéria, vamos contar as histórias de dois condomínios que passaram maus bocados com gestões comprovadamente desonestas: Baronesa de Arary e Residencial Porto Seguro, que fizeram a virada com a renovação de seus representantes, encabeçadas, respectivamente, pelo chef Henrique Fogaça e Alfredo Vieira das Neves Junior.
A partir dos relatos, juntamente com seus advogados, elencamos os sinais de atenção e como os condôminos podem se organizar para apurar fatos e tomar medidas, de forma legítima, para a mudança.
E para os síndicos que se veem às voltas com oposição nociva, o reforço do quanto é importante prezar pela boa comunicação e empunhar a bandeira da transparência para evitar acusações injustas de condôminos mal-intencionados.
9 sinais de que uma gestão condominial precisa mudar
A troca da gestão pode ser necessária não apenas por corrupção no condomínio. Gestão ruim, que deixa a desejar; síndico com "síndrome de pequeno poder" ou uma saudável renovação são outras razões. Abaixo listamos alguns sinais que podem indicar que chegou a hora de mudar de síndico:
1. Dificuldade de acesso a documentos e números: qualquer tentativa de ocultar informações e atitudes que ameaçam a transparência, tais como colocar empecilhos para:
- acessar balancetes
- conferir pastas de prestação de contas
- cópia de contratos
- números financeiros
- orçamentos.
Foi o que aconteceu no condomínio Residencial Porto Seguro.
"Comecei a pedir as pastas de prestação de contas da minha torre, tive dificuldades em acessar a documentação, mas consegui identificar uma dívida alta com INSS, prestadores de serviços e concessionárias. Estavam prestes a cortar a água do condomínio", conta Alfredo Vieira das Neves Junior, atual síndico do condomínio de 11 torres no bairro da Casa Verde, em São Paulo.
2. Conluio: quando se percebe que funcionários ou prestadores de serviço - zelador, gerente da administradora ou qualquer pessoa que trabalha para o condomínio - formam um time fechado com o síndico, unidos para dificultar acesso a informações ou atendimento a demandas. "Quando só se atende às ordens do síndico, deixando os moradores de lado, que têm direitos, é um indício muito claro de que algo está errado", diz o advogado Marcio Rachkorsky,
Ele assessorou o icônico condomínio Edifício Baronesa de Arary, na avenida Paulista, em São Paulo, que amargou 18 anos sob a má gestão de um grupo que deixou o empreendimento em estado de abandono, cheio de problemas financeiros, de manutenção e de segurança.
3. Perpetuação de uma pessoa no cargo de síndico: quando se percebe que existe uma movimentação interna prévia, uma preparação ilegítima que facilite a perpetuação daquela pessoa no cargo de síndico, como uma busca por procurações antes da assembleia de eleição, desconfie.
"Por mais que o síndico seja bom, pode entrar alguém melhor em determinados aspectos. Mudança é bem-vinda. Dá um reset, um recomeço no condomínio. Alternância de poder é importante porque não fica ninguém tempo suficiente para fazer esquemas profundamente enraizados, que envolvam proprietário, fornecedores, prestadores, funcionários. Mantém o condomínio fora da zona de conforto", opina Ignacio Aronovich, subsíndico do Baronesa de Arary.
3. Aumento da cota condominial sem benfeitoria aparente: a taxa de condomínio aumenta, mas as manutenções não estão em dia, fornecedores prestam serviço de baixa qualidade, patrimônio está se desvalorizando.
4. Uso suspeito e indiscriminado de procurações: no caso do Baronesa de Arary, nas apurações de irregularidades realizadas, descobriu-se absurdos em assembleia de eleição, tais como:
- funcionária do condomínio que portava procuração assinada, com firma reconhecida, de um condômino falecido
- funcionários da empresa de manutenção do elevador que portavam procurações
- funcionária particular de um único proprietário que portava 177 procurações, todas com o mesmo template.
De acordo com o relato de Alfredo Vieira das Neves Junior, o grupo gestor anterior do Residencial Porto Seguro se garantiu no poder por 10 anos a partir do uso indiscriminado de procurações - na última assembleia, 30 delas eram inválidas.
5. Inconsistência, irregularidade e imperícia financeira:
- contas que deixaram de ser pagas
- sempre os mesmos prestadores de serviço sem revisão ou renegociação de contratos
- contas não aprovadas
- fornecedores sem identificação dos serviços realizados
- pagamentos feitos com recibos (RPA) ao invés de Nota Fiscal a prestadores autônomos, cuja carga tributária é elevada.
6. Autoritarismo: síndico que se comporta como "dono do prédio", avesso à colaboração e participação de condôminos interessados, acaba exercendo uma administração nociva.
7. Não cumpre o Código Civil: síndico que não cumpre e não faz cumprir a convenção, regulamento interno e demais regras internas, não faz prestação de contas anual, não realiza assembleia, deixa manutenção das áreas comuns a desejar, dentre os demais deveres do síndico no artigo 1348, do Código Civil.
8. Incompatibilidade de renda do síndico com seu nível social.
9. Conflitos de interesse: contratos suspeitos com condôminos. Ignacio Aronovich é contrário a proprietários que são prestadores de serviço do condomínio. "Há conflito de interesse e abre brecha, despersonaliza e é difícil desassociar do condomínio."
Fonte: https://www.sindiconet.com.br/informese/corrupcao-no-condominio-como-identificar-e-agir-legalmente-administracao-fraudes